Quando eu era criança, não acreditava em Papai Noel.
Meu pai deixava sempre bem claro de que a boneca, a roupa ou o sapato que ganhava estava vindo de seu esforço de seu trabalho.
E, de verdade, isto não me tirou a inocência de ser criança no natal, nem tampouco me fez ficar adulta mais cedo. Se assim fosse, eu não seria palhaça.
O Natal na minha infância era sem Papai Noel, mas com toda a magia que o natal poderia proporcionar.
Minha mãe fazia árvores gigantes, enfeitava, colocava pisca-piscas, enchia a base de presentes para toda a família. E os presentes não passavam de R$ 10,00, se fosse na moeda de hoje.
Daí, na noite de natal, a casa enchia. Era o dia do ano que tínhamos a melhor refeição. A meia-noite, hora de abrir os presentes. Todos ganhavam.
Minha mãe colocava sempre uns 10 presentinhos a mais, caso alguém aparecesse de surpresa (e sempre aparecia um vizinho ou outro).
Todos felizes, começava a ceia. E então, satisfeitos, nos despedíamos das pessoas e íamos dormir.
O natal era a noite em que os primos dormiam lá em casa. Era uma felicidade só.
Meu pai, sempre contava a mesma história triste: quando ele deixou um sapatinho na janela e ao invés de deixarem um presente, ele ficou sem um par de sapatos.
A gente ficava triste, e feliz ao mesmo tempo. Tínhamos um pai que não deixava o pão faltar e uma mãe que não deixava a alegria faltar.
Ano pós ano o natal era a mesma coisa. Até que teve um ano em que meu pai se foi e tivemos que continuar sem ele. Não tinha mais história do sapatinho e também não tinha ninguém pra dizer que não foi o Papai Noel quem nos presenteou.
Mas jamais faltará a magia do Natal. Ah, e aquele monte de presentes baratos da dona Neide.
Foto da Capa por: Marcelo Lacerda