Desisti da novela quando percebi que a mocinha era uma Maria mijona e o mocinho, um chato. Mesmo assim, lembro de assistir o primeiro capítulo com uma convicção: o personagem gay daria pano para manga.
Que amor, que nada. Mateus Solano e suas ironias dominavam a cena! Até chamando a sobrinha recém-nascida de “ratinha”, Félix conseguia ser cativante.
Nas últimas três ou quatro semanas fui rendida pelo folhetim novamente. Deu tempo de conferir a aproximação de Félix e Niko. Pude acompanhar a fase final da regeneração do vilão em mocinho. Mais do que isso, percebi que entre tantas bandeiras tortas levantadas pelo autor, a que deu certo foi erguida quase sem querer.
No meio da bizarrice de uma gordinha lidando com gente besta e da baboseira que virou o caso da personagem com câncer que acabou como fantasma, estava Félix.
Nos distraímos com um Fagundes bundão enquanto Suzaninha pegava rapazes mais novos, curtimos e celebramos Tatá Werneck em seu apogeu, mas o que valeu, o que realmente valeu a pena, foi ver um casal incomum ganhando os telespectadores.
Félix e Niko não tiveram cenas calientes. Ao invés disso, amizade, DR, carinho e companheirismo. Coisas que há tempos não víamos de modo convincente em um folhetim.
Me deparei com avós torcendo pelo relacionamento – e pelo beijo – dos dois. E esse beijo, o tão esperado beijo gay, aconteceu.
A tv demorou sei lá quantas décadas para mostrar casais homossexuais, e outros tantos anos para que um casal gay se beijasse. Fiquei com a sensação de que a espera valeu: fomos brindados por uma cena sutil, delicada e afetuosa.
Foi um beijo doce, mas foi um beijo. Estamos tão acostumados a assistir muita pele e língua, que o sutil valeu tanto quanto qualquer exagero.
Fechando com chave de ouro, uma cena entre pai e filho. Uma das mais lindas que já conferi.
Obrigada, Solano. Obrigada, Walcyr Carrasco. Isso sim tem a ver com amor à vida.