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O poder do perdão – Agressores e vítimas são fotografados lado a lado

Jean matou o pai e três irmãos de Viviane. Godefroid incendiou a casa de Evasta, e só não a matou porque ela fugiu. François matou o filho de Epiphanie. E colocados frente a frente, todos os agressores foram perdoados.

Duas décadas após o grande genocídio em Ruanda, o fotógrafo Pieter Hugo realizou uma série de fotos de encontros completamente improváveis, entre agressores e vítimas. Em uma das fotos, uma mulher descansa a mão sobre o ombro do homem que matou seu pai e seus irmãos. Em outra, um casal aparece de mãos dadas, e é praticamente impossível pensar que anos antes, ele destruiu a casa dela.

Segundo o fotógrafo, as reações entre vítimas e agressores variou muito. Alguns se reuniram facilmente, conversando sobre suas aldeias. Outros não conseguiram conversar entre si. “Há diferentes níveis de perdão”, diz Hugo. “Nas fotos, a distância ou proximidade que você vê é bastante precisa”.

Em entrevistas para o projeto, todos falam sobre o processo de perdão como um passo importante para melhorar suas vidas.

Beatrice Mukarwambari [sobrevivente]: “Se não formos teimosos, a vida continua. Quando alguém chega em você sem ódio – mesmo com as coisas horríveis que aconteceram – você tem que o receber e dar o que ele está procurando. O perdão é igual a misericórdia”.

Laurent Nsabimana [agressor]: “Eu participei da destruição da casa dela. As casas que ficaram sem donos, nós destruímos a fim de obter lenha. Seu perdão me provou que ela é uma pessoa com um coração puro”.

Dominique Ndahimana [agressor]: “O dia em que eu pensei em pedir perdão, me senti aliviado. Eu perdi minha humanidade por causa do crime que cometi, mas agora sinto como se fosse como qualquer outro ser humano”.

Cansilde Munganyinka [sobrevivente]: “Depois que eu fui expulsa de minha aldeia, me tornei desabrigada e insana. Quando ele pediu meu perdão, disse a ele: ‘Não tenho nada para alimentar meus filhos. Você vai me ajudar com os meus filhos? Você vai construir uma casa para eles?’ Na semana seguinte, Dominique veio com alguns sobreviventes e ex-prisioneiros que perpetraram o genocídio. Então mais de 50 pessoas ajudaram a construir uma casa para minha família. Desde que isso aconteceu, comecei a me sentir melhor. Antes, era como uma vara seca; agora me sinto mais tranquila em meu coração, e compartilho essa paz com meus vizinhos”.

François Ntambara [agressor]: “Por causa do genocídio de 1994, participei na morte do filho desta mulher. Agora somos membros do mesmo grupo de reconciliação. Partilhamos tudo; se ela precisa de um pouco de água para beber, eu vou buscar para ela. Não há suspeita entre nós, seja no dia ou durante a noite. Eu costumava ter pesadelos lembrando os tristes acontecimentos, mas agora eu posso dormir em paz. Hoje, quando estamos juntos, somos como irmãos”.

Epiphanie Mukamusoni [sobrevivente]: “Ele matou o meu filho e então veio pedir perdão. Eu imediatamente concedi a ele, porque ele não fez isso por vontade própria – ele era assombrado pelo diabo. Fiquei satisfeita com a maneira como ele contou sobre o crime em vez de esconder, porque dói saber que alguém esconda um crime cometido contra você. Antes, quando eu ainda não havia concedido o perdão, ele não poderia chegar perto de mim. Ele era meu inimigo. Mas agora, eu prefiro tratá-lo como um filho”.

Cansilde Kampundu [sobrevivente]: “Meu marido estava escondido, e os homens o caçaram e o mataram em uma terça-feira. Na terça-feira seguinte, eles voltaram e mataram meus dois filhos. Eu esperava que minhas filhas fossem salvas mas, em seguida, eles as levaram, mataram e as jogaram na latrina. E eu não fui capaz sequer de removê-las do buraco. Eu me ajoelhei e orei por elas, juntamente com o meu irmão mais novo, e cobri a latrina com a sujeira. O motivo pelo qual concedi o perdão é porque eu nunca vou receber de volta os entes queridos que perdi. Assim, preferi perdoar”.

Juvenal Nzabamwita [agressor]: “Eu danifiquei e saqueei sua propriedade. Passei nove anos e meio de prisão. Eu aprendi sobre o bem e o mal antes de ser liberado. Quando cheguei em casa, pensei no quanto seria bom me aproximar da pessoa para quem fiz maldade e pedir perdão. Eu disse que iria ficar com ela, com todos os meios à minha disposição. Soube que meu próprio pai estava envolvido na morte de seus filhos. Ao descobrir isso, que meu pai se comportou perversamente, pedi perdão por ele também”.

Cesarie Mukabutera [sobrevivente]: “Muitos de nós experimentamos os males da guerra, e eu sempre me perguntava o que tinha criado. Minha consciência me dizia: ‘Não é justo viver para vingar seu amado’. Levou tempo, mas no final percebemos que somos todos ruandeses. O genocídio aconteceu devido ao mau governo que colocou irmãos e irmãs uns contra os outros. Agora, você pode viver com isso, ou aceitar e perdoar. A pessoa que você perdoa torna-se um bom vizinho”.

Deogratias Habyarimana [agressor]: “Quando eu ainda estava na cadeia, o presidente Kagame afirmou que os presos que se declarassem culpados e pedissem perdão seriam liberados. Eu fui um dos primeiros a fazer isso. Depois que saí da cadeia, também precisava pedir perdão à vítima. Cesarie não sabia que eu estava envolvido no assassinato de seus filhos, mas eu disse a ela o que aconteceu. Quando ela me concedeu perdão, senti que todo o mau que ela via em meu coração desaparecera”.

Godefroid Mudaheranwa [sobrevivente]: “Eu queimei a casa dela. A ataquei, a fim de matar seus filhos e ela, mas Deus os protegeu e eles escaparam. Quando fui libertado da prisão, se eu a visse, iria correr e me esconder. Então a AMI começou a fornecer treinamentos para reconciliação. Eu decidi pedir-lhe perdão. Agradeço a Deus por conseguir um bom relacionamento com alguém que fiz tanto mal”.

Evasta Mukanyandwi [agressor]: “Eu costumava odiá-lo. Quando ele veio à minha casa e, ajoelhado diante de mim, pediu perdão, fiquei comovida com sua sinceridade. Agora, se eu gritar por socorro, ele virá para me salvar. Quando eu enfrentar qualquer problema, chamarei ele para me ajudar”.

Sinzikiramuka [agressor]: “Eu pedi perdão porque seu irmão foi morto na minha presença. Ele me perguntou se eu me declarei culpado, e eu respondi que sim, como alguém que testemunhou o crime, mas que não foi capaz de fazer nada para salvar alguém. Foi ordem de cima. Eu contei quem eram os assassinos, e os assassinos também lhe pediram perdão”.

Karorero [sobrevivente]: “Às vezes a justiça não dá uma resposta satisfatória – e todos casos estão sujeitos à corrupção. Mas, quando se trata de perdão voluntário, é algo que satisfaz. Quando alguém está cheio de raiva, ele pode perder a cabeça. Quando concedi o perdão, senti minha mente em paz”.

Jean Pierre Karenzi [agressor]: “Minha consciência não estava tranquila e estava muito envergonhado por encontrá-la. Depois de ser treinado sobre reconciliação, eu fui para a casa dela e pedi seu perdão, e então eu apertei suas mãos. Até o momento, estamos em boas condições”.

Viviane Nyiramana [vítima]: “Ele matou meu pai e três irmãos. Matou juntamente com outras pessoas, mas veio sozinho pedir perdão. Juntamente com um grupo de outros criminosos que estavam na prisão, me ajudou a construir uma casa com um telhado coberto. Eu tinha medo dele e agora que o perdoei, o medo se foi. E eu sinto claramente isso em minha mente”.

As fotografias dessa postagem são de Pieter Hugo e saíram em um especial do New York Times. Além disso, serão expostas ao ar livre em Haia.

Para ver o texto original, acesse aqui.

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