Mês de aniversário costuma ser um mês reflexivo pra maioria das pessoas, e eu não fujo a regra. Só a reflexão sobre minha nova idade, que chegará dia 16 de junho, dessa vez foi tão boa e profunda que virou texto, a quatro mãos, com minha amiga e blogueira, Camila Heloise. Confira:
Amanhã envelheço. Hoje ainda é cedo. Estou indo lá fora viver e sugar da vida o que eu puder. Quero descer até colar a minha cara no chão, rolar na grama verdinha do quintal da vida. Da pele até o osso desejo viver com tudo que sou, em cada vão momento. Mergulhar em todos os rios que em meu caminho houver. Saltar de para-quedas e não parar quando as quedas forem maiores do que a minha coragem. Beijar sempre como se fosse a primeira vez, e me despedir sempre como se fosse a última. Vou gastar minhas risadas, todas, até que não me sobre nada. Rir até doer a barriga e me encurvar. Não me poupar de abraços, laços, e amassos. Nem de amores, nem de sabores.
Quero a razão me pedindo pra parar de ser tão maluca, tão radical. Sambar na cara do medo e do sossego. Serei o samba, o sândalo, as sandálias gastas na melhor festa da cidade. Comer doce quando quiser comer, brincar quando quiser brincar. Comer brincando, brincar de comer como quando fazia aos 7 anos de idade. Serei a senhorinha mais infantil que já se viu. Com fé na vida e o mesmo olhar de deslumbramento de todas as primeiras vezes. Meu olhar guardará sempre o susto da surpresa, como se eu nunca soubesse a respeito de nenhum espetáculo da vida, ainda que saiba.
Quero gastar a vida como gastei meus sapatos mais amados, meus brinquedos mais adorados. Amando-a tanto e por ela sendo tão amada a tal ponto de sermos como o suéter velho do armário, acabadinho, mas tão querido que do corpo nunca sai. Sentirei cada dor com cada parte do corpo e cada amor com toda célula. Quero ser útero do amor, quantas vezes ele quiser. Permití-lo renascer, sem medo, quantas vezes assim o quiser.
Quero ser uma velhinha de cabelos brancos e páginas escritas, contando tudo sobre o que vivi e senti arder. Sem pesar, sem histórias que não aconteceram, com ausência de loucuras que eu não fiz.
Hoje sou serenata para amanhã ser silêncio sem sofrimento. Não vou me arrepender de não ter vivido, sentido, sofrido e chorado. Porque quando as rugas chegarem, quando a aridez das pálpebras incomodarem meus olhos, meu coração estará satisfeito e calmo, por ter amado tanto enquanto eu pude, e ter sentido a dor até rasgar as entranhas quando foi preciso. Minhas pernas estarão bambas e meus joelhos estarão frágeis, mas meu sorriso gasto vai entregar o quanto elas já saltaram das mais altas nuvens e escalaram montanhas de sonhos.
Quero ser gasta e gastar a vida. E sorver cada detalhe que a mim ela oferecer. Ter a minha história mais tatuada que meu corpo, sem nenhum pedaço de pele que não tenha as marcas das histórias que vieram, foram e virão. Quero conhecer cada pedaço do meu céu, e mesmo assim, reparar que todos os dias há mais algum detalhe para conhecer. Me permitir o novo e receber o último suspiro como se fosse o primeiro.
Amanhã envelheço. Hoje ainda é cedo demais. E se o tempo for mesmo tão veloz, ainda posso correr atrás.