Sempre quis visitar a região norte do país, conhecer o pulmão do mundo e explorar as belezas em torno do rio com maior densidade de água do planeta. Eis que o destino criou a situação e conheci o estado antes do que esperava.
Acho que nunca evitei de relacionar o Amazonas com aventura, até que cheguei ao famoso teatro e, em um ensaio da orquestra italiana que se apresentaria naquela noite, percebi que a cidade de Manaus pode ser bem romântica também.
Aproveitando esse clima de romantismo e aventura, segui para um dos destinos obrigatórios de quem passa pela região: o “encontro dos rios”, fenômeno mundialmente conhecido pelo fato das águas marrons do Rio Solimões se encontrarem com as águas escuras do Rio Negro sem se misturar. A explicação sobre o acontece é científica demais, mas posso dizer que a experiência é incrível.
A experiência foi o desfecho de um dia produtivo passeando pelos rios, que começou às 7:30, quando o responsável da Amazon Eco Adventures me pegou no hotel em Ponta Negra e seguimos para uma marina próxima ao centro de Manaus.
O barco fez sua primeira parada em uma casa onde pudemos nadar com botos cor de rosa. Haviam cerca de 4 ou 5 animais extremamente dóceis que se revezavam em pegar peixes e serem acariciados por turistas. Ficamos impressionados ao saber que os botos ficam livres para ir e vir no rio, e mesmo assim nadam onde estão os turistas. Em pouco mais de cinco minutos no rio, pude até abraçar um deles.
Na sequência, fomos em uma tribo indígena, onde um cacique nos recepcionou e contou sobre as tradições das tribos da região em uma grande taba. Foi de espantar descobrir que os índios são iniciados aos 4 anos de idade, levando uma “surra” com uma espécie de chicote, e se demonstrarem medo ou fugirem dos golpes, vão viver fazendo trabalhos com as mulheres para o resto das vidas.
Ah, o iniciado, à partir dos 4 anos, começa a tomar o chá de ayahuasca [mais conhecido como Santo Daime], para entender mais do mundo e passa a ter voz nas decisões da tribo. Achei espantoso que com essa idade uma criança já seja considerada um adulto.
Também fiquei espantado em saber que quando atinge a maioridade, o índio pode sequestrar a mulher que quiser – desde que de outra tribo – e se casar com ela.
Deixamos a tribo, passamos por dentro do igapó, que é a área da floresta que inunda durante parte do ano, e encontramos o lago das vitórias régias. Já tinha visto a planta aqui no sudeste, mas o tamanho que elas chegam na floresta é espantoso.
Para fechar a primeira parte do dia, almoçamos em um restaurante flutuante, boa comida com os deliciosos peixes da região.
Após o restaurante, o barco fez uma nova parada em um vilarejo com casas em palafitas. Ali conhecemos uma família ribeirinha que cuida de vários animais da fauna amazônica e os apresenta para turistas. Confesso que não acho muito legal ver turistas sendo enrolados em cobras ou pegando jacarés na mão, mas conversando com o guia, fui informado que a família tinha a autorização do IBAMA. Deixei os gringos com as cobras e jacarés, mas quando saí do barco me surpreendi com um filhote de bicho preguiça e não tive como não me encantar.
Peguei o filhotinho no colo e por alguns segundos fui o cara mais feliz em cima daquela palafita. É incrível como olhar para uma preguiça inspira coisas boas, e a forma como ela te abraça naturalmente, dá vontade de deixá-la o dia todo ali. O pelo dela está longe de ser sedoso – é seco pra caramba e quando fazemos carinho, parece que vai quebrar – mas foi um dos meus grandes momentos amazônicos.
Seguimos com o barco para Catalão, a cidade flutuante. Casas, escolas, igrejas… tudo ali é construído em cima de troncos de madeira que sobem e descem conforme o volume do rio.
Visitamos uma criação de pirarucu – o maior peixe com escamas de água doce do mundo – e pudemos pescar o gigante amazônico de forma bem divertida: com uma vara que mais se assemelha a um porrete, um barbante grosso e sem anzol, para não machucar o peixão. A ideia é sentir a emoção e a força do pirarucu, e assim que o bicho morde a isca, você entende o quanto deve ser difícil uma briga com um desses.
Uma das minhas lamentações desse dia foi de que Balotelli e alguns jogadores da Itália estiverem no local uma hora antes e eu perdi a oportunidade de conhecê-los. Esse foi o vídeo que Super Mario postou no seu Instagram:
E se todo o dia foi incrível, depois de algum tempo no barco, chegamos ao local onde as águas não se misturam. Ver de perto o encontro dos rios é como reencontrar aqueles kits de alquimia da infância, quando descobríamos que uma cor não se misturava com outra por conta de alguma substância.
O barco fez algumas manobras e explicou algumas coisas, como por exemplo, que as águas não se misturam por conta de sua temperatura. E isso realmente dá pra ser percebido colocando a mão nas águas enquanto o barco vai de um rio ao outro: o Rio Negro é mais quente que o Solimões. Além disso, a densidade das águas são diferentes – não que eu tenha notado essa parte – e a velocidade com que correm são bem distintas: o Solimões corre ente 4 e 6 km/h enquanto o Rio Negro passeia a 2 km/h.
Definitivamente, ver o Solimões e o rio Negro se encontrando é a imagem para finalizar essa aventura amazônica com chave de ouro. Espero que tenha te estimulado a viver a sua aventura por aqui também!