Ontem li o repugnante texto da colunista de O Globo, Silvia Pilz, e hoje, li uma entrevista dela na qual dizia que havia escrito um texto divertidíssimo (tão divertido que só ela riu) e complementou que no humor vale tudo. Bem, eu vim contrariar a fala dela e de muitos: não, não vale tudo no humor, nem em nenhuma outra situação.
Hoje em dia, usamos a liberdade que tantos já sofreram para conquistar, para defecar pela boca, pelo papel, pelo teclado.
Sobra sarcasmo, falta compaixão. À nossa pobre rica blogueira, Silvia Pilz, faltou se atentar que se ela não conhece empregada doméstica que não tenha problema no nervo ciático, é porque no decorrer da vida essa mesma empregada carregou peso muito além do que devia, podia ou conseguia.
Falta também a ela a sensibilidade de entender que se quando um pobre está doente, seu único assunto é a doença, não é porque é chique, ou é moda, é porque isso lhe tira o sono sobre quem vai manter a casa se ele faltar, se o dinheiro vai dar pra comprar remédio e comida para os filhos no mês seguinte.
Falta à Silvia a maturidade pra ver a fé de um pobre quando este levanta a camisa e mostra a cicatriz da cirurgia que junto com o câncer, levou parte do seu corpo, mas lhe salvou a vida. Falta ainda a esta senhora, a noção básica de estudos sociais na prática, da falta de oportunidades, das consequências das nossas diferenças classistas, pra entender que pobre não procria por diversão, e sim, falta de acesso ao conhecimento, saúde básica, camisinha e o escambau a quatro, que todos nós, crescemos tendo acesso.
Falta à essa triste senhora, descobrir que pobre tem pressão alta porque muitas vezes, o único prazer que tem na vida, após um dia exaustivo e mal pago de trabalho, é comer bem quando chega em casa, e que isso às vezes significa uma carne gordurosa, com uma salada regada a sal.
Falta ainda à Silvia entender que se pobre fica feliz porque agora pode fazer exame pelo plano de saúde que a muito custo consegue pagar, é que agora ele não precisa mais acordar todo dia pensando se vai morrer esperando na fila do SUS.
Mais que entender sobre pobre, falta à Silvia entender sobre o ser humano, sobre a vida, sobre o que faz rir (o tal humor, pelo qual ela diz valer tudo), e sobre liberdade de expressão.
O atentado ao jornal Charlie tem me feito pensar muito sobre a responsabilidade da nossa liberdade. Defendo com unhas e dentes o nosso direito de dizer o que queremos. Mas tenho gana ainda maior pelo respeito que todos merecem, e pelo amor e compaixão que todos deveriam receber.
Liberdade sem responsabilidade é infantilidade. Que a Silvia e todos nós, aprendamos fazer valer a pena o direito que tantos já morreram lutando para que tivéssemos acesso: liberdade. De expressão, de viver. De ser