Ainda na escola, Alice cismou com as canelas finas e passou a evitar saias.
“Quem sabe mais tarde, quando malhar o bastante para exibir as panturrilhas”.
Mais tarde veio o ensino médio, onde Alice cismou com os seios grandes e deu para recusar decotes.
“Quem sabe mais tarde, quando puder fazer redução”.
Mais tarde Alice foi para a faculdade, na mesma época em que parou de exibir sorrisos largos nas fotos.
“Quem sabe mais tarde, quando colocar aparelho”.
Mais tarde Alice engordou. Ao invés de roupas, deu para evitar lojas. Nada servia e cada prova era uma tremenda frustração.
“Quem sabe mais tarde, quando emagrecer”.
Mais tarde vieram verões sem praia, sem carboidratos e sem blusa de alcinha. Vieram revistas idiotas, dietas malucas e efeito sanfona.
Vieram cobranças mudas, risinhos irônicos, potes de sorvete e filmes dramáticos.
E só depois de pilhas e mais pilhas de Glamour, Mônicas Salgado, Pugliesis e tanta gente besta, Alice se encheu.
Viu-se no espelho, grande e coberta demais para um dia quente, e percebeu que viver era urgente.
Seu corpo é esse, Alice. Vai fundo porque a vida é uma só!