Dessa vez a Pixar foi buscar inspiração no México para contar a história de Miguel, um garoto que tem o sonho de ser músico, indo contra as aspirações de sua família. Sim, você realmente já viu essa história em A Pequena Sereia, Ratatouille, Moana e tantos outros filmes do pessoal da Disney, mas mesmo seguindo um roteiro esperado, Viva – A Vida é uma Festa traz momentos ímpares que fazem toda a diferença.
Isso porque o filme trata um costume que ao mesmo tempo é tão próximo e tão distante, a vida pós-morte. Enquanto grande parte do mundo não acredita nisso, uma outra tem certeza que existe algo do lado de lá e essa porcentagem é gigantesca no México, que comemora o Dia dos Mortos com a alegria e certeza que esse mundo realmente exista. Sim, esse mundo também foi explorado em filmes como Festa no Céu de Guilhermo del Toro e A Noiva Cadáver de Tim Burton, mas a abordagem dessa produção é completamente diferente.
Começa com a ponte que liga o mundo dos vivos e dos mortos. Formada por milhares de pétalas que simbolizam lembranças, as almas só podem cruzá-la enquanto são lembradas por seus entes queridos e tal como em aeroportos internacionais, a fiscalização é rigorosa. Ser lembrado por aqui reflete também na morada na cidade dos mortos, com gente celebrada vivendo em mansões iluminadas e os esquecidos em favelas escurecidas.
E o visual desses dois mundos ficou incrível. Enquanto a cidade mexicana traz tons vermelhos e quentes, o lado de lá é fluorescente e vibrante, com animais em neon, música por todo lado e uma sociedade de esqueletos felizes. Reflete muito bem a felicidade que o povo do México sente na semana do 2 de novembro, quando a porta entre os mundos se abre.
Falando ainda sobre visual, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a ótima caracterização dos personagens idosos. Como desenhista, sei que é muito fácil seguir por um caminho mais simples e criar personagens idosos como Carl Fredricksen, que mesmo sendo muito velho tem o rosto limpo e uma ruga aqui e ali. Viva – A Vida é uma Festa vai além. Coco, a personagem que dá nome ao filme lá fora e por aqui ganhou o nome de Inês, é uma velhinha legítima. Abuelita também, mesmo aparentando anos a menos que sua mãe, dá pra ver rugas reais surgindo enquanto se divide entre amor e braveza tal qual uma boa vó que é responsável por sua família.
Ah, e como falamos do nome original de Inês, que lá fora é Coco – um diminutivo para Socorro – e dá o título original do filme, ele foi modificado no mercado brasileiro para evitar qualquer brincadeira com o nome. Isso já havia sido feito em outros países com filmes como Moana, que na Itália ganhou o título de Oceania e o nome da menina modificado para Vaiana por conta de Moana Pozzi, uma atriz pornô muito famosa no país.
Além disso, como em Up! e a própria Moana que ganharam os subtítulos “Altas aventuras” e “Um Mar de Aventura”, Viva também ganhou um.
Mas não encarem isso como uma crítica negativa, já que não tem como dizer que o título brasileiro ficou ruim e ele exalta perfeitamente o que é o filme. Uma grande celebração da vida.
E já que falamos na versão brasileira, falemos da dublagem. O capricho com que a Disney trata suas versões brasileiras se mantém aqui, com dubladores incríveis que também sabem cantar como Leandro Luna (do musical Chaplin), Nando Pradho (que fez o Inspetor Javert no musical Os Miseráveis) e Adriana Quadros (do musical Mudança de Hábito). O protagonista é vivido por Arthur Salerno e ainda tem Rogério Flausino do Jota Quest, que gravou uma versão em português para Lembre de Mim.
Como não neguei em momento algum que o filme segue pelo caminho mais simples – e por isso é bem previsível – se prepare para chorar em seu final. A cena que resume tudo é linda e evoca tanta coisa em quem assiste, que é difícil não derramar lágrimas.
Uma animação que merece ser assistida. E lembrada!
www.youtube.com/watch?v=K3cL-o73GPU